quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

e os namoradinhos?

   Devo admitir que diferente da maioria de vocês, eu não tenho parentaiada para me perguntar "e os namoradinhos?" no natal e no ano novo, porque não comemoro tais datas com parentes.
   Mas logo na curva, em março, tem o aniversário da minha avó, o que sempre gera um churrasco com direito a parentes de até quinto grau que eu nem lembro que tenho no resto do ano (e que muitas vezes só sei que é parente porque alguém me conta durante o churrasco). 
   Sendo minha vó, minha mãe de consideração, eu não tenho escapatória. Fico no meio do evento fervilhando de Liras e Oliveiras e Marcianos e Nascimentos, a maioria com caras, vozes e hábitos muito semelhantes, e vizinhos que se convidam ou vão mesmo entrando sem aviso nenhum.
   Muitos deles, conhecendo meu gênio ruim, evitam, sabiamente, qualquer tipo de aproximação e se limitam a um cumprimento de longe com um aceno de cabeça, ou fingem que não me viram, favor que retribuo.
   Mas tem sempre alguém para forçar amizade. Geralmente pessoas que eu nem sei o nome, mas eles sabem o meu: "Cíntia, como você está bonita. E os namoradinhos?".
   Porque a minha vó tem punho de ferro, procuro não ser rude além do limite e muitas vezes apenas sorrio e espero a pessoa prosseguir com seus assuntos vazios até que eu possa arrumar uma desculpa para me desvencilhar de sua presença.
    Mas essa noite eu tive um flash genial. 
   Eu poderia contratar dois caras e deixá-los conversando a um canto. O primeiro que me perguntasse "e os namoradinhos?", e eu abriria o meu sorriso mais forçado e diria "ah, está ali. Vou te apresentar!" e chamaria, em direção aos dois: "Amor..." e eles viriam até nós. Eu me colocaria entre eles e faria as apresentações: "fulano, sicrano e beltrano" etc. E o parente perguntaria: "ah, e qual dos dois é o seu namorado?", ao que responderia: "os dois!", e daríamos um beijo triplo cheio de língua e saliva e mãos bobas bem no meio do quintal. 
   Haveria silêncio, pratos caindo, crianças chorando, o olhar da minha vó e fim.


    Contrata-se namorado de aluguel
    Pagamento em beijos, cervejas e lágrimas da família tradicional brasileira (plus: todos os meus parentes são evangélicos)