sábado, 14 de outubro de 2017

vizinhos? melhor não tê-los! mas se não os temos, como sabê-los?

   Ontem eu estava indo comprar cerveja e subi pela minha rua, caminho que eu nunca faço. Eu sempre a desço. E lá pra cima, território semi-desconhecido, eu vi uma casa pintada com o verde mais bonito e brilhante de todo o mundo. É um verde tão verde, que reluz e deixa verde a parede branca do outro lado da rua (a minha rua não tem vizinhos de frente).
   Quando pintaram a "minha" casa de verde, eu odiei. Achei brega. Parecia um abacate gigante e disforme. Mas se fosse esse verde, bem que eu teria gostado.
   Talvez, ponderei, aquela casa tenha sido recém-pintada. Ou, talvez, a parede do vizinho seja sempre mais verde.
   Os meus vizinhos, que vivem entre ficar no mais completo silêncio e gritar baboseiras, hoje estão animadíssimos. Tem alguém tocando violão, eles estão cantando Legião Urbana, e sempre que acabam uma música, batem palmas e dão gritinhos empolgados. 
   Não conheço meus vizinhos, nenhum deles. Só conheço suas vozes, que gritam coisas uns para os outros, e eu ouço através da parede, que nem é tão fina assim. Não os conheço, mas os detesto por existirem. Entretanto, hoje bem que me deu vontade de vestir uma das minhas roupas novas e chegar lá como quem não quer nada. Não iria querer o churrasco e nem a cerveja não, eu só queria sentar com eles, cantar Legião Urbana e bater palmas entre uma música e outra. 
   É interessante como essas rodinhas que se propõem a tocar e cantar Legião Urbana sempre fazem as músicas da banda soarem mais felizes do que são. Porque ouvir Legião Urbana sozinho, trancado no seu quarto, é pedir para acabar com o pulso cortado.
   Mas nas rodinhas não. Nas rodinhas, Legião Urbana é a banda mais animada e positiva que já existiu. Até eu ficava empolgada quando cantava Legião em coro com meus colegas. Uma vez nós cantamos música após música de pé, pulando, e fizemos uma guerrinha de tinta no apartamento do Sillas ao som de nossas próprias vozes cantando Tempo Perdido. Éramos tão jovens! O telhado ficou com marcas de tinta vermelha por uns bons anos, até que ele teve que pintar de branco para entregar o apartamento...
   E esses vizinhos, eles são inventivos. Até fizeram um medley com Tempo Perdido e uma música do Michel Teló, o que eu teria achado uma barbaridade uns anos atrás, mas hoje me provocou indiferença. É isso que a vida fez com o meu espírito.