terça-feira, 31 de maio de 2016

difícil

Todos os problemas do mundo seriam evitados se as pessoas parassem e pensassem:



"como eu me sentiria se fizessem isso comigo?"

domingo, 15 de maio de 2016

amor

   Às vezes, bem às vezes mesmo, eu sinto tal arroubo de carinho por determinadas pessoas, que fico paralisada, sem saber como expressar aquilo. Meu corpo fica hesitante, querendo agarrar a pessoa, mordê-la, feri-la, como se esses atos fossem compatíveis com o amor. É um carinho tão forte, tão latente, que fica batendo dentro de mim, esperneando de vontade de sair e tomar seu rumo... mas eu não sei amar. 
   Eu sei expressar ódio, fúria, tristeza, até mesmo apatia; mas não o amor. 
                           
              O coração diz: abrace fulano. 

                             Mas a cabeça grita: não, 
                                                                não, 
                                                                  não ... !!!!!!
                                              Demonstração de afeto é fraqueza!


   Eu me contenho. O carinho, abafado, vai ficando fraco, até que morre. Às vezes é como um incêndio. Quando penso que já apagou, uma chama reacende.
   Às vezes não.

   

   

  

domingo, 8 de maio de 2016

mimada

    O dia das mães, há muito tempo, é uma data inútil para mim. Eu vejo as pessoas postando no Facebook, vejo comemorações na família e finjo que isso não me afeta. Eu sou uma espécie de órfã cujos pais estão vivos... Tive que aprender as coisas que eles se negaram a me ensinar na marra, lutando contra o mundo e contra mim mesma.
   Minha mãe estava lá quando eu tinha 11 anos, para zombar do fato de eu ainda não menstruar, quando ela começou a menstruar aos 9. Ela estava lá para colocar pânico em mim, destacar a possibilidade de que eu nunca teria filhos, que eu nunca seria, segundo ela, uma mulher de verdade. Mas ela não estava lá quando menstruei aos 13. Não estava lá para me ensinar a usar o absorvente, não estava lá quando eu sentia cólicas que me deixavam dobrada de dor, não estava lá para explicar porque eu não sangrava todos os meses.
   Na verdade, aos 12 anos eu menti dizendo que havia descido para mim, para que assim ela me deixasse em paz. E daí segui mentindo sobre os maiores acontecimentos da vida de uma mulher. A primeira vez que eu beijei na boca, com língua no meio e saliva rolando, foi aos 21 anos. Mas ela facilmente diria que foi aos 13, 14...
   Ela também não estava na minha vida quando fiz sexo pela primeira vez. Não tive uma figura materna para contar como foi. Quando tentei lhe contar, já tardiamente, foi uma situação constrangedora em que nenhuma de nós sabia o que dizer, mas minha mãe é do tipo que fala mesmo quando não sabe o que dizer, e quando falou foi para dizer que o que eu havia feito era nojento
   Ela só esteve nos piores momentos, nas piores lembranças, me infligindo dor e vergonha. E hoje eu sou obrigada a ler sobre o amor incondicional de toda mãe; que não existe amor como de mãe; que mãe é mãe
   A figura "mãe" não significa nada para mim, assim como não significa para muitas outras pessoas. Hoje sou capaz de conviver de forma semi-sadia com ela, nos vemos com certa frequência, mas posso sentir o ressentimento e o estranhamento no ar; ela não me reconhece como filha, nem eu a reconheço como mãe. Ela me julga, me degrada. Por aspectos físicos e pelas escolhas que fiz na vida.
   Hoje, com 26 anos, eu ainda não a entendo. Não entendo como ela foi capaz de fazer as coisas que fez. Queria poder dissecá-la, saber o que se passa em sua mente, o que há de tão errado em mim na visão dela que justifique tanta aversão. Por que ela nunca tem nada de bom para me oferecer? Eu já estive tão aberta a qualquer demonstração e troca de carinho, e fiquei ali, alienada.
   No noivado do meu irmão ela veio para a festa. Meu pai não veio, porque para ele é insuportável lidar com a presença dela, quando eu e meus irmãos fomos as reais vítimas de sua fúria e instabilidade. 
   Minha mãe é uma pessoa impetuosa, que sempre bate de frente com todos e por isso coleciona desafetos (no que, devo admitir, não sou diferente). Minha tia está no topo da lista por algum motivo há muito esquecido; porém a recíproca é verdadeira, e minha tia a detesta de volta. 
   Minha tia, que apesar de muito diferente, e de não ter meu sangue, esteve presente na minha vida e muitas vezes me incentivou quando minha mãe não incentivava, mas que também não nutre grandes sentimentos por mim.... Mesmo assim, durante a festa ela passou por minha mãe de nariz empinado, se aproximou de mim e me abraçou de lado, relembrando em voz alta, de forma deliberada, de situações nas quais esteve presente em minha vida, uma provocação aberta, uma tentativa de causar ciúmes em minha mãe; como dizendo: "a sua filha gosta mais de mim do que de você", ou "eu fui mais mãe para a sua filha do que você". Mesmo sabendo que aquilo era puro teatro e muito longe da realidade, eu peguei aquela arma, minha única arma, e retribui o abraço, falando com carinho de coisas que nem tinham significados reais. E mesmo em meio ao desconforto, me senti triunfante ao ver a expressão da minha mãe, que certamente sofria unicamente pelo ego, pelo golpe de sua única filha ter intimidade com sua rival. Eu me senti bem. Mesquinha, infantil e mimada, mas bem.
   Então, não, esse papo de que mãe é mãe, na prática não significa nada.
   

  Eu falo muito sobre mãe, porque como diz o Chaves, "cada um pensa naquilo que lhe faz falta". Quem não gostar que não leia.