quinta-feira, 7 de abril de 2016

falando com as paredes

   A noite passada eu sonhei que alguém me amava.

   Sono pra mim é uma coisa complicada. Sempre foi. Sempre vi as pessoas virando e começando a roncar em 5 minutos, enquanto eu rolo na cama por horas, perdendo a paciência e a sanidade. Antigamente me diziam que eu não conseguia dormir porque não fazia nada, e assim sendo, não estava cansada. Eu acatei isso por muitos anos... mas hoje vejo que não, pois atualmente tenho um emprego que me cansa física e mentalmente. Quando chega umas sete da noite eu já estou morrendo de cansaço, como se eu fosse partir ao meio. Mas mesmo que eu deite cedo, só consigo dormir após horas, o cérebro ligado no 220.
   Tenho tentado não deixar o celular com o wifi ligado, pois apesar dos meus "amigos" me ignorarem por semanas, se alguém me manda mensagem 2 horas da manhã, justamente quando meu cérebro começa a desacelerar, eu fico elétrica novamente e corro para responder. Mesmo com o wifi desligado tenho dificuldade. Mesmo com calmantes tenho dificuldade.
   A pior parte é que eu sempre recorri ao sono como fuga da vida. Eu gosto de ficar semi morta por horas, quanto mais melhor: o sono como negação de vida.
   Mas nem isso posso ter. Acordo diversas vezes, qualquer barulho me despertar, e nos últimos dois anos outro mal me aflige com frequência - a paralisia do sono. É uma das sensações mais angustiantes. E quando não fico paralisada, sentindo alguém sentado em cima de mim, respirando em cima de mim, sou acometida por terríveis pesadelos que me fazem acordar gritando e correndo, o coração tão acelerado que me faz tremer dos pés a cabeça.
       Às vezes tenho um pesadelo dentro de um pesadelo. Sabe? Quando um pesadelo é pior do que um filme de terror, e você acorda, aliviado, mas de repente o pesadelo continua, como se ele tivesse sido trazido para o mundo real com o seu despertar. Algumas noites eu fico nesse loop, acordando dentro de um pesadelo dentro de um pesadelo dentro de um pesadelo, até pensar que aquilo é real. Que eu estou no inferno.
   Sonho com estupro, incesto, insetos gigantes me atacando... E mesmo assim, prefiro enfrentar qualquer um desses pesadelos, a sonhar que alguém me ama. Quando sonho que alguém me ama, acordo e começo a chorar desconsoladamente, e essa sensação de ser amada vai se esvaindo aos pouquinhos. A dor da realidade me consome em semanas de pura dor emocional. Como se eu tivesse sido roubada de algo primordial.

   Não entendeu o que eu quis dizer? É como a música do Smiths. A noite passada eu sonhei que alguém me amava. "Sem esperança e sem dano, só mais um alarme falso". Mas há dano, sim. Por isso essa é a música mais fodidamente angustiante que existe no mundo.

   Geralmente é um homem. Geralmente não tem rosto. Ele me abraça, me beija, eu consigo sentir, consigo praticamente tocar o amor, que é mútuo. A noite passada era um homem em uma cadeira de rodas. Ele me olhava como se eu fosse a melhor pessoa do mundo, e minha insegurança ficava no caminho, mas eu o amava tanto também... Ainda amo, porque o efeito daquele sentimento não passou. É como se eu tivesse vivido aquele amor e por algum motivo fui separada daquela pessoa, que está em algum canto por aí, sofrendo também. No sonho estávamos fugindo, nos escondendo sempre. Havia sangue, havia confusão. Mas havia o maior dos carinhos, uma espécie de reciprocidade que ainda não vivenciei fora de sonhos.


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   Eu não quero mais viver. 

   Há algum tempo eu não quero mais viver. Nos últimos meses me senti melhor, mas essa verdade sempre vai voltar para socar a minha cara: eu não presto. Eu não sirvo pra nada. Eu sou um peso morto no mundo. Eu poderia sumir agora mesmo e não faria diferença alguma para ninguém.