quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

supermassive black hole

   Sou movida a orgasmos.

   Quando deito na minha cama, dia ou noite, preciso me controlar para não me masturbar por puro hábito; quase sempre falho. E quando os prazeres do orgasmo se dissipam, tudo que sinto é a culpa por todos meus pensamentos impuros. Não por religião, recato, ou pudor imposto pelo 'patriarcado', mas por mim mesma, porque  sou uma escrava do meu descontrole. 
   Uma pessoa que se masturba uma ou duas vezes por semana, que consegue deitar na própria cama sem pensar em masturbação, que não precisa se conter quando dorme na casa de outros e que não tem pensamentos obsessivos durante atividades não sexuais, é uma pessoa saudável. A masturbação, em si, não é o problema. O caso é que eu não sei ser sutil, tudo que adoto para a minha vida vem de forma arrebatadora, compulsiva.

   E não é o fato de eu gostar de sexo que me leva a essa compulsão. Pelo contrário, eu nem curto sexo. Nunca tive uma experiência realmente prazerosa fodendo com outra pessoa... Pra ser sincera, nem sequer entendo o sexo. Quero dizer... o que as primeiras pessoas do mundo estavam pensando quando simplesmente decidiram lamber, chupar e enfiar partes de si umas nas outras? 
   Entendo o apelo literário do sexo. As palavras são excitantes. Mas não. Não. Se sou viciada em masturbação é porque sempre senti um vazio que me atordoa, e que o orgasmo preenche por alguns segundos. É uma questão química, como todas as outras questões do comportamento humano. Uma questão que qualquer outra droga resolveria, só cobraria um preço maior do que sentimento de culpa por gostar da sensação que o orgasmo produz.
   Não é minha culpa. (tento me convencer)
   Sendo mulher, um orgasmo verdadeiro é algo muito forte. Posso comparar à sensação de uma carreira ou duas de cocaína. Muitas pessoas dizem que o amor produz efeito parecido ao do pó, mas nunca senti, amando, um baque quase elétrico percorrendo e desligando meu cérebro por alguns segundos. Com o amor nunca senti meu corpo todo em êxtase, a própria vida correndo por cada célula.
   Mas às vezes deito, e enquanto olho pro teto, procurando não pensar em coisas sujas demais, constato que apesar da satisfação momentânea, não é esse tipo de masturbação que eu queria; não é o que tenho entre as pernas que sofre de carência. O que eu queria era uma masturbação na qual pudesse tocar algo mais íntimo, mais profundo, minha ferida invisível, algo que está localizado ao mesmo tempo em diversos lugares; no meu coração, no meu cérebro, no meu estômago — entre minhas entranhas. Eu queria poder masturbar minha alma.
   Aos poucos (mas significativamente) o orgasmo vai ficando insuficiente perto do que eu gostaria de sentir.
   O vazio passa a exigir mais. Mais. MAIS
   Eu já tentei deus, Jesus, igreja; já tentei bebida, drogas, álcool, sexo de risco e auto-flagelação; já tentei arte, intelecto, amor, masturbação... Tudo preenche a seu jeito, porém tudo vai ficando pequeno diante do vazio, que lentamente vai ocupando mais espaço. Vira um buraco negro. Um Buraco negro supermaciço que destrói absolutamente tudo ao redor.