quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

nós


   Não existe nenhuma relação humana que seja igualitária. Nenhuma.

   Na minha tabela, existem os seguintes tipos  de relacionamentos:

  •    eu te amo e você não me ama, mas finge que ama;
  •    você me ama e eu não te amo, mas finjo que amo;
  •    eu te amo muito, e você gosta de mim;
  •    você me ama muito, e eu gosto de você;
  •    às vezes eu te amo, às vezes você me ama, mas nunca de forma simultânea.


   Ahhh, sincronicidade... e se você, assim como eu, tiver um transtorno mental, todos esses tipos se confundem e viram uma só coisa. Eu te amo eu te odeio eu finjo te amar eu gosto de você eu já não te amo [...]
    E nós amamos amar quem não nos ama. Quando a pessoa nem ao menos finge que nos ama em retorno, aí que teimamos em amar mesmo, porém nesse caso eu não consideraria um relacionamento e sim uma obsessão (a qual recorro com frequência assustadora).
   Seria extremamente legal se pudéssemos sintonizar o coração e a mente, e nos comandar a amar quem nos ama na mesma intensidade — assim como eu me forço a odiar quem me odeia — Mas não é assim que funciona.
   E mesmo eu, com meu complexo de inferioridade e paranoia contínua (eu sei que ele não me ama, só tem pena de mim. eu sei que sou um estorvo para ela. eu sei. eu sei. eu sei), me pego "não gostando"¹ de pessoas que sei que me amam, porque elas são tão grudentas, me amando mais do que eu consigo amá-las de volta. É um sentimento angustiante ver alguém tentando te alcançar de forma desesperada e você não ter nada para dar em troca além do fingimento — mas é realmente pro bem dela? Não estaria ela muito melhor sabendo que não é assim, que eu não curto tanto? Ela desperdiçaria o tempo dela com outra pessoa. Eu desperdiçaria meu tempo com outra pessoa.
   É cruel. As relações humanas são cruéis. E obviamente, eu detesto que finjam sentimentos quando se trata de mim. Eu preferiria saber a verdade, sentir a rejeição de uma vez do que em pequenas doses.
   Eis o ponto crucial: se eu dissesse a verdade, elas provavelmente iriam desencanar de mim, e no momento que elas desencanassem, passariam a ter apelo. Eu passaria a desejar a presença delas. Ou a atenção que antes dispensavam a mim.
   É o jeito humano de lidar com o mundo. Egoísta. É tudo sobre o que NÓS precisamos. Nós não queremos ficar sozinhos, nós queremos ter com quem desabafar, nós queremos nos sentir superiores a alguém, nós queremos ostentar relações para que os outros não pensem que somos mal amados.  
   Em algumas ocasiões essa necessidade pessoal nossa pode até servir para complementar a necessidade pessoal do outro, ou assim nós queremos acreditar; mas a verdade é: de forma geral, nós só fazemos o que de alguma forma nos beneficia. Nem que seja um ganho indireto para a auto-destruição que alguns de nós buscamos de forma tão desesperada. No momento que a relação passa a ir contra aquilo que nos beneficia, nos desfazemos de todo e qualquer laço sem nem pestanejar. 
   

    Eu sei, eu sei. Sou a rainha das contradições.
   
  


¹inicialmente escrevi "odiando", porém lembrei de uma lição prática, que deixo para quem quiser: o livro "The Girl With the Dragon Tattoo" ganhou o título "Os Homem que Não Amavam as Mulheres" no Brasil, e "Os Homens que Odeiam as Mulheres" em Portugal. Ok, o título original é "Män som hatar kvinnor"... mas enfim, com essa aprendi que existe uma diferença entre odiar não amar, e no caso, entre "odiar" e "não gostar"