domingo, 4 de dezembro de 2016

CAPÍTULO 2: THE GROWNUP


Título: The Grownup 
Título alternativo: What Do You Do? | Título nacional: O Adulto
Autora: Gillian Flynn
Gênero: Suspense/Terror
Editora: W&N 
Ano: 2015
Número de páginas: 79
Onde comprei: Book Depository

Preço: US$3.75



   Sharp Objects, da Gillian Flynn, me fez valorizar um gênero literário que nunca dei muita atenção, o thriller, e me fez recuperar a vontade de ler. Me fez lembrar o que é pegar um livro e não conseguir deixá-lo de lado nem para comer ou dormir. O que é ficar lendo uma páginas após a outra de forma frenética, louca para saber o final (louca para ler a página final antes de chegar lá!).
   Assim sendo, logo fui atrás de outros livros dela. Li os outros dois publicados até o momento, e quando, tristonha, pensei que era isso, descobri The Grownup, que não é realmente um "livro", e sim um conto, que foi publicado anteriormente em uma coletânea organizada pelo George R. R. Martin, com o título "What do You Do?" ("o que você faz?".  Essa é uma questão que a narradora se coloca diversas vezes ao longo da leitura).
   Mesmo o conto tendo sido publicado solo por motivos comerciais (tem muita gente esperando um novo livro dessa mulher!), eu estou satisfeita, pois assim soube dele. 
   A história é narrada por uma mulher, cujo nome não é relevado, que é uma batedora de punheta profissional. Ao longo de três anos, segundo seus cálculos, ela bateu cerca de 23.546 punhetas. E não qualquer punheta, A Punheta. Uma punheta boa o bastante para que ela tivesse uma agenda cheia o ano inteiro, exceto pelas duas semanas na qual saía de férias.
   Até que ela começa a sofrer com a síndrome do túnel carpal, o que a obriga a deixar a profissão. É aí que ela recebe a proposta de trabalhar como leitora de auras no mesmo estabelecimento onde bateu punheta por 3 anos. 
   Graças a sua mãe, que nas palavras da própria narrada, era uma mulher preguiçosa, que mendigava na rua o suficiente para sobreviver, ela ganhou a habilidade de ler pessoas, saber o que elas querem, e o que dizer para conseguir o que quiser delas. Nas ruas ela conseguia distinguir os "Tonys", que são pessoas que não sabem dizer não. O título é dado por causa de seu pai, que se chamava Tony e não sabia dizer não, "exceto, é claro, quando a esposa pediu que ele não fosse embora".
   A narradora, apelidada de Nerdy, é uma mulher que gosta de se gabar de sua inteligência, perspicácia e apetite por livros. Ela reconhece, e aqui entra a identificação, que não é tão inteligente, simplesmente convive com pessoas que são menos inteligentes do que ela, e se preocupa com o dia em que tiver que conversar com pessoas realmente inteligentes, que saberão que ela é entediante, uma farsa.
   Mesmo após se aposentar ela mantém alguns clientes favoritos, entre eles um homem que também gosta de ler, e que lhe recomenda livros toda a vez que aparece para uma punheta. Ela chama isso de uma espécie de "clube do livro". 
   Um dia, após bater uma punheta, Nerdy conhece Susan, uma mulher que está visivelmente sob alguma espécie de sofrimento emocional. Nerdy, de forma cautelosa, tenta arrancar da mulher o que lhe aflige. Após uma breve leitura da mulher, aposta que há algum problema na casa, mais especificamente com o marido ou um filho. Cética, Susan se recompõe e vai embora, mas volta dias depois, revelando que realmente tem um problema em casa: Miles, seu enteado, que cria desde os 4 anos de idade, e que agora tem 15, a assusta. Ele é violento, ela diz, e obscuro. O pai do garoto, um homem ausente, não quer nem ouvir falar sobre isso, pois acha que é implicância de sua esposa.  Nerdy internamente atribui o comportamento de Miles à idade e a mudança repentina, já que a família de Susan acaba de comprar uma nova casa. Porém, vê na situação a oportunidade perfeita de carreira, e se dispõe a fazer uma limpeza espiritual na casa de Susan. 
 Ela propõe um total de 12 visitas, a 2.000 dólares cada, contando que com o tempo o comportamento de Miles amenizará, e Susan pensará que foi graças às limpezas. Entretanto, Susan quer uma solução mais rápida.
   Nerdy visita a casa pela primeira vez, e aqui o livro se transforma em outra coisa, um terror gótico. A casa, por fora, é uma construção vitoriana, e a narração de Nerdy, abalada pela estética do local, é de causar arrepios. Por dentro, no entanto, a casa foi completamente renovada, o que a tranquiliza um pouco.
   Nerdy passa a maior parte das visitas, nas quais não tem ninguém na casa, lendo na enorme biblioteca da família, mas também faz minuciosa limpeza a base de ervas, sonhando que em breve Susan a recomendará para diversas amigas ricas, que também contratarão seus serviços, e ela será uma leitora de auras de luxo.
   Até que coisas bizarras começam a acontecer. Primeiro, ao limpar o chão, Nerdy corta o dedo, apesar de não ter nada afiado ali para explicar isso. Um dia, enquanto ferve água para a limpeza, Miles chega às suas costas e lhe diz que ela deve deixar de ir à casa, ou morrerá. Ela logo descobre que uma das babás da família sofreu um terrível acidente e foi hospitalizada. Susan indica que o responsável pelo acidente foi Miles. Ela passa a temer o garoto, que vomita em sua bolsa. 
   Intrigada, Nerdy decide verificar na internet se há algum histórico da casa, e descobre que o dono original da mansão, Patrick Carterhook, tinha um filho, que assim como Miles, defecava e vomitava nos pertences da família, e inclusive mandou uma babá para o hospital após um incidente. E, pior, descobre que esse jovem assassinou toda a família enquanto eles dormiam, e se matou em seguida.
   Agora crente de que a mansão é assombrada e que a história está sendo reencenada, Nerdy, apesar de seu espírito vigarista, decide alertar Susan e dizer que não pode ajudá-la no fim das contas, e que ela deveria ir embora da casa.
   Temos, então, um bom plot twist, mas o final, em si, deixou muito a desejar. A história tem basicamente três partes, a primeira é divertida, aborda a vida de trapaças da narradora, e a escrita da Flynn é no mínimo instigante. A forma como ela descreve as coisas são divertidamente absurdas, algo que me agrada, pois acaba me tirando da zona de  conforto que a maioria dos autores me joga, quando tentam se levar muito a sério. A segunda parte é o verdadeiro suspense, na qual eu comecei a analisar os personagens para tentar descobrir o que de fato estava acontecendo. Muitos suspeitos e um clima de terror que me empolgou bastante, já que não sou facilmente amedrontada. E a terceira, após o plot twist, na qual acredito que a autora se perdeu tentando criar um final que não fosse clichê. O tiro saiu pela culatra, e ele soou simplesmente broxante, embora tenha conseguido desfazer minha visão da personagem central, por quem eu estava nutrindo respeito. Ela não é, afinal, tão esperta.
  Por se tratar de um conto, os personagens não se desenvolvem tanto quanto poderiam, e algumas situações em potencial são desperdiçadas, bem como personagens são citados e não têm utilidade alguma para a história. OK, a autora consegue brincar com as sensações e o raciocínio do leitor, mas no fim não nos serve de nada, porque não chegamos a lugar nenhum. 
   Entendo que essa provavelmente foi a intenção. No fim o leitor É a narradora, nos sentimos como ela.
    O ponto positivo, ao menos para mim, é que a Flynn conseguiu, nas duas primeiras partes, criar o tipo de clima que me fez me apaixonar por ela em primeiro lugar. Ela é uma excelente escritora, sabe brincar com as palavras como ninguém. 
   Agradeço por mais uma personagem feminina escrachada, boca suja, provavelmente beberrona, e completamente viciante. O que mais me prende a um livro é conseguir me identificar com ao menos um personagem, e ela sempre consegue criar mulheres que cheguem mais perto de quem eu sou.
   Também adoro a capacidade dela de criar crianças bizarras. É algo totalmente King, mas com uma abordagem mais crua.
   Se a história fosse mais longa, teria sido fantástica. Quem sabe um dia...


   Leria de novo? SIM
   Nota 4 (de 5)

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Morre ator Michael Massee, aos 61 anos

   Nem todo ator consegue o nível de reconhecimento global que as pessoas associam a sucesso, e até mesmo talento. Nem por isso são artistas ou pessoas supérfluas.
   Para mim, a coisa mais legal de assistir seriados é aquele momento em que um ator que é figurinha carimbada aparece. A empolgação e obsessão que bate por minutos, até que eu lembre de onde o conheço.
   Michael Massee é uma dessas figurinhas carimbadas que fez breves, mas significativas aparições em muitos dos meus seriados preferidos (e alguns que ainda não assisti).
   Não é justo que um ator old school desses, que esteve em quase 80 produções, seja lembrado apenas por um acidente que provavelmente tomou anos de sua vida e carreira.
Um nó na minha garganta se forma a cada notícia vaga sobre sua morte, a falta de menção de colegas de profissão sobre essa perda...
   Ao longo dos anos o vi interpretar, em sua maioria, vilões, mas cada um deles com peculiaridades suficientes para não deixá-lo type-casted.
   Michael Massee nascido em 1955, em Missouri,  deixa uma viúva, Ellen Massee, com quem tinha uma boutique, e dois filhos.
   O ator é mais conhecido por suas atuações nos filmes O Corvo, The Amazing Spider-Man 2 e nas séries 24 Horas, FlashForward, Interventions, Rizzoli & Isles, House, Fringe, Cold Case, Alias, Carnivale e muitas outras. Ele também deu voz ao Dr. Bruce Banner em Ultimate Avengers. Ficará eternizado por seu talento e seus papéis sendo alguns dos meus preferidos, os seguintes:

24 HORAS (1ª TEMPORADA) - IRA GAINES

Ira Gaines era um membro do Navy Seals que foi exonerado por desonra, desde então ele se tornou um mercenário. Ele foi contratado por Andre e Alexis Drazen para matar o candidato à presidência Senador David Palmer e a família de Jack Bauer. Matou a pau em uma das minhas cenas preferidas do seriado (e definitivamente uma das mais épicas):




FLASHFORWARD (1ª TEMPORADA) - DYSON FROST (A.K.A D. GIBBONS)

Dyson Frost, também conhecido como D. Gibbons, foi uma das pessoas de interesse centrais da Mosaic Investigation, já que foi o único a permanecer acordado durante o blackout que ocorreu através do mundo inteiro:



SUPERNATURAL (3ª TEMPORADA) - KUBRICK

Kubrick foi um caçador e amigo de Gordon Walker, com quem se juntou para tentar localizar e matar os irmãos Winchester:



COLD CASE (4ª TEMPORADA) - KIRIL

Kiril era um criminoso americano que trabalhava transportando diversos itens ilegais e roubados. Ele era parte de um grupo de tráfico humano comandado por Nachalnik.
A música cai perfeitamente para esse momento de pesar.




Descanse em paz!


   

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Capítulo 1: DON'T LOOK BACK



Título: Don't Look Back (alternativo: Justice for Sara)
Autora: Erica Spindler
Gênero: Suspense/Drama/Romance
Editora: Sphere
Ano: 2013
Número de páginas: 444
Onde comprei: Book Depository


  Há um tempo venho criando coragem para começar a escrever sobre os livros que leio. Não tenho um propósito específico, mas isso é algo que eu fazia quando era mais nova, e acho um exercício interessante. É improvável que alguém leia, mas vamos lá.

  Embora muitos títulos constem na lista de livros para comprar (e ler), às vezes tenho dinheiro e não quero comprar nenhum deles (não me pergunte por quê). Nesses momentos fico vagando pela Estante Virtual, Saraiva, Submarino e afins, analisando os livros que estão baratos. Porém, esse ano decidi que não irei mais comprar livros traduzidos do inglês, porque já me sinto à vontade com o idioma, e quero expandir meu vocabulário. O Book Depository caiu como uma luva nessa missão. Apesar da alta do dólar, às vezes compensa mais comprar lá, que vem do Reino Unido, do que na Estante Virtual — por conta do frete.
   Pra mim o único problema do Book Depository é que justamente pelo frete ser gratuito, os livros não têm código de rastreio, o que pode gerar alguma apreensão. Esse demorou cerca de 3 meses para chegar. Tirando a ansiedade, o site é completamente confiável. Eles dão todo o suporte necessário, e até enviam uma nova cópia caso a original seja extraviada.
   Don't Look Back foi comprado em uma dessas ocasiões em que nenhum dos livros na minha lista me atraíam o suficiente. Após navegar por algumas horas na aba de thrillers em desconto no Book Depository, o encontrei, e a sinopse me lembrou muito Sharp Objects da Gillian Flynn, que li ano passado e me deixou sedenta por mais. Verifiquei a nota no Good Reads  e constava um surpreendente 4.1, mas diante da incerteza se ele valeria a pena ou não, acabei não comprando. Passados alguns dias, me arrependi, e fui ao site, só para descobrir que ele tinha esgotado. Fiquei me martirizando, mas não desisti, e entrei no site religiosamente até que ele voltou ao catálogo. Estava pouco menos de 5 dólares, o que, no dia, se traduziu em míseros 16 reais. 
   O livro conta a história de Kat McCall, uma garota rebelde que perdeu os pais e vive com a irmã mais velha, Sara. O relacionamento das duas é extremamente conturbado, porque  a Kat vive mentindo, e constantemente tem explosões de raiva, que resulta em agressões verbais. Quando Sara descobre que a irmã fingiu estar no time de softball para ter tempo livre com o namorado, — o típico bad boy de cidadezinha — Kat é castigada. Sem computador, sem telefone, sem sair de casa. Inconformada, ela grita para quem quiser ouvir que queria que Sara estivesse morta.
   Para seu azar, seu pedido se realiza, e pouco após esse episódio público sua irmã é brutalmente assassinada em sua própria casa. Não apenas isso, o crime se dá através de pancadas violentas com o mesmo taco de baseball que Kat usava, e que foi um dos motivos da briga.
   Kat, que permanecera em seu quarto, já que estava de castigo, acorda para encontrar a cena e chama a polícia. Quando Stephen Tanner, o chefe de polícia da cidade chega para averiguar o crime, encontra Kat agindo como se nada estivesse acontecendo, e até mesmo dando risadinhas, o que o deixa com os cabelos em pé. Aqui um fato interessante: segundo entrevista que a Erica Spindler deu, a reação de Kat é baseada na reação de um pessoa real: Amanda Knox.
   A cena do crime é tão gore que o durão chefe de polícia, um alcoólatra em luto pelo filho, acaba botando as tripas para fora. Ele logo fica obcecado com a reação de Kat. Todas as suspeitas recaem sobre ela, já que o crime foi obviamente passional, e a cidade inteira, incluindo seus amigos, testemunham que ela odiava a irmã e queria vê-la morta para botar as mãos na fortuna, a qual ela só teria direito ao atingir a maioridade. 
    Acobertando o namorado, que tem 20 anos e poderia se encrencar se viesse a tona que eles mantinham um relacionamento (que incluía sexo, maconha e planos homicidas), Kat muda repetidamente sua história, perdendo mais e mais a pouca credibilidade que tem.
    Apesar das mais variadas provas circunstanciais, Kat é inocentada pelo crime e decide deixar a cidade, já que é abandonada por todos seus amigos, seu namorado, e basicamente não tem mais família além de um primo, Jeremy (que também administra a fortuna da família).
  O livro começa de fato 10 anos após o crime, quando Kat retorna a Liberty, para descobrir quem é o verdadeiro assassino de sua irmã. Ela logo recebe a visita do novo chefe de polícia, Luke Tanner, filho do homem que destruiu sua vida. Stephen ainda nutre amargura por Kat ter "ficado impune pelo assassinato que cometeu".
  Luke costumava ser um jovem rebelde, mas agora é um cara "de boa", ou assim tenta se convencer, pois isso é irritantemente afirmado o tempo todo, tanto pelo personagem quanto pela autora. Apesar disso, ele contraria o pai em diversos momentos, e mais tarde é revelado que ele sofre de uma carência massiva, já que após a morte do irmão, o relacionamento dele com seu pai se fragmentou.
  Atraídos à primeira vista, Luke e Kat flertam diante dos olhos da cidade inteira, embora ela resista à ideia de namorar um policial. 
   Relutantemente, Luke aceita ajudar Kat a descobrir o verdadeiro assassino de sua irmã, e reabre o caso. De pano de fundo, no mesmo dia que Sara foi assassinada, um policial, Wally Clark, também foi baleado. Luke decide reabrir esse caso também, pois acredita que os dois estão conectados.
  Vítima de vandalismo e ódio por parte dos moradores da cidade, Kat logo descobre que seu antigo namorado, Ryan, está noivo de sua ex-melhor amiga, a rica e insegura Betsy.
  À partir daí se desenrola a investigação de Kat, que a despeito do pedido de Luke, se envolve em situações perigosas em busca de JUSTIÇA PARA SARA.
  Essa questão consegue ser bastante interessante, pois o livro tem personagens o suficiente para entreter várias possibilidades: agora o ex-namorado de Kat e o ex-namorado de Sara são os principais suspeitos. Ambos tinham o mesmo motivo: estavam interessados na herança das McCall, e os mesmos meios. 
  Confesso que a certo ponto cheguei a pensar que Kat fosse realmente culpada, e não sei se isso ocorreu por minha pouca confiança nos seres humanos (mesmo os fictícios) ou se a autora quis causar no leitor a mesma suspeita que a cidade inteira nutria. Teria sido um plot twist interessante.
  A leitura é fácil, rápida, mas isso só ocorre porque a Erica Splinder é uma escritora bem meia-boca. Não é de se admirar que ela tenha publicado mais de 30 livros — o público geral adoooora uma trama fácil! Ela repete muito as ideias e os termos utilizados. Eu não aguentava mais os personagens "laying their hands on their laps" ou "shifting their gaze". O excesso de drama e tragédias e culpados é o mesmo tipo de baboseira que eu escrevia quando tinha 15, 16 anos... 
   Eu não sei como meus olhos não ficaram permanentemente prejudicados de tanto que eu os revirei lendo certos diálogos (e a vergonha alheia me fazendo corar loucamente). Em alguns momentos me senti como quando era adolescente e lia romances de banca, especialmente no que diz respeito ao relacionamento da Kat e do Luke. Eu adoro um bom flerte entre personagens, e o Luke é super galante, em alguns pontos fofos, mas a maneira como eles foram abordados soou bem brega. Eles se conheciam há menos de um mês e estavam pensando em casamento, em amor... Em thrillers eu só quero uns beijos e uma foda, esse papo de amor pode ficar para romances (que não leio). 
   [spoiler]"when he entered her, she cried out. It was as if she had been waiting all her life for this moment. For this man."[/spoiler]
  Alguém me mate, por favor!
  Isso sem contar o conflito de interesse. Os motivos de Luke para reabrir o caso chega a ser questionado por alguns personagens durante interrogatórios pifiamente conduzidos. Enquanto eu lia, fiquei pensando o que aconteceria se aquilo chegasse a corte. A forma que eles seriam destroçados no tribunal! Os advogados estavam ali só para constar: a lógica da autora é assustadoramente burra. E ela teve consultores!
  Eu aprendi, nos últimos anos, a esperar mais de personagens femininas (obrigada Gillian Flynn!), por isso a Kat é extremamente frustrante para mim. Sempre toma as piores decisões possíveis, se colocando em risco desnecessariamente, impulsiva, e dependente do "galã" para salvá-la (o que ocorre vezes demais para o meu gosto!). Ela é patética. Por ter sido escrito por uma mulher, poderia ter fugido desse padrão hollywoodiano. 
  Apesar disso, não posso dizer que não gostei do livro, caso contrário não o teria terminado. Fiquei grudada a ele pelo suspense, lendo páginas após página, louca para descobrir o final (e dando uns sorrisinhos quando o Luke era fofo......... também sou patética).
  Eu saquei quem era o verdadeiro assassino bem antes do final, só errei o motivo (mais ou menos). O livro tem um final felizinho, o que para mim é um ponto negativo. Gosto de finais realistas, arrebatadores, não desses clichês! No geral, o livro todo poderia ser mais realista. Me tira do sério quando os personagens ficam dias acordados e sem comer! Os pequenos detalhes importam sim! Se até 24 Horas mostrava o Jack Bauer tirando um cochilo e comendo, porque um livro de 444 páginas não pode?
  Definitivamente não chegou nem aos pés de Sharp Objects. Mas é um bom livro para entreter, tem uma boa história, apenas um pouco mal executada. 
  Já fiz o pedido de outro livro da autora para ver se mudo essas impressões sobre sua escrita (porém, pelo que li por aí, não vai acontecer). 

  Uma ressalva: eu QUASE NUNCA imagino os personagens da forma que eles são descritos. A imagem vem na minha cabeça mais pela personalidade dos mesmos do que pelas descrições dos autores. Inclusive as dispenso! Não adianta o autor dizer que a mulher tem 1,65, olhos azuis e pele branca.... se eu imaginá-la uma negra de 1,80 não vou me forçar a vê-la de outra forma!

  + eu comecei a ler o livro imaginando o Luke como o Daniel Bess, e lá pro fim, por algum motivo, passei a vê-lo como o Andrew Lincoln. Talvez porque o livro começa muito bem e vai decaindo e se tornando outra coisa da metade para o fim. 

  Leria de novo? Provavelmente não.
  Nota: 3 (de 5)

terça-feira, 31 de maio de 2016

difícil

Todos os problemas do mundo seriam evitados se as pessoas parassem e pensassem:



"como eu me sentiria se fizessem isso comigo?"

domingo, 15 de maio de 2016

amor

   Às vezes, bem às vezes mesmo, eu sinto tal arroubo de carinho por determinadas pessoas, que fico paralisada, sem saber como expressar aquilo. Meu corpo fica hesitante, querendo agarrar a pessoa, mordê-la, feri-la, como se esses atos fossem compatíveis com o amor. É um carinho tão forte, tão latente, que fica batendo dentro de mim, esperneando de vontade de sair e tomar seu rumo... mas eu não sei amar. 
   Eu sei expressar ódio, fúria, tristeza, até mesmo apatia; mas não o amor. 
                           
              O coração diz: abrace fulano. 

                             Mas a cabeça grita: não, 
                                                                não, 
                                                                  não ... !!!!!!
                                              Demonstração de afeto é fraqueza!


   Eu me contenho. O carinho, abafado, vai ficando fraco, até que morre. Às vezes é como um incêndio. Quando penso que já apagou, uma chama reacende.
   Às vezes não.

   

   

  

domingo, 8 de maio de 2016

mimada

    O dia das mães, há muito tempo, é uma data inútil para mim. Eu vejo as pessoas postando no Facebook, vejo comemorações na família e finjo que isso não me afeta. Eu sou uma espécie de órfã cujos pais estão vivos... Tive que aprender as coisas que eles se negaram a me ensinar na marra, lutando contra o mundo e contra mim mesma.
   Minha mãe estava lá quando eu tinha 11 anos, para zombar do fato de eu ainda não menstruar, quando ela começou a menstruar aos 9. Ela estava lá para colocar pânico em mim, destacar a possibilidade de que eu nunca teria filhos, que eu nunca seria, segundo ela, uma mulher de verdade. Mas ela não estava lá quando menstruei aos 13. Não estava lá para me ensinar a usar o absorvente, não estava lá quando eu sentia cólicas que me deixavam dobrada de dor, não estava lá para explicar porque eu não sangrava todos os meses.
   Na verdade, aos 12 anos eu menti dizendo que havia descido para mim, para que assim ela me deixasse em paz. E daí segui mentindo sobre os maiores acontecimentos da vida de uma mulher. A primeira vez que eu beijei na boca, com língua no meio e saliva rolando, foi aos 21 anos. Mas ela facilmente diria que foi aos 13, 14...
   Ela também não estava na minha vida quando fiz sexo pela primeira vez. Não tive uma figura materna para contar como foi. Quando tentei lhe contar, já tardiamente, foi uma situação constrangedora em que nenhuma de nós sabia o que dizer, mas minha mãe é do tipo que fala mesmo quando não sabe o que dizer, e quando falou foi para dizer que o que eu havia feito era nojento
   Ela só esteve nos piores momentos, nas piores lembranças, me infligindo dor e vergonha. E hoje eu sou obrigada a ler sobre o amor incondicional de toda mãe; que não existe amor como de mãe; que mãe é mãe
   A figura "mãe" não significa nada para mim, assim como não significa para muitas outras pessoas. Hoje sou capaz de conviver de forma semi-sadia com ela, nos vemos com certa frequência, mas posso sentir o ressentimento e o estranhamento no ar; ela não me reconhece como filha, nem eu a reconheço como mãe. Ela me julga, me degrada. Por aspectos físicos e pelas escolhas que fiz na vida.
   Hoje, com 26 anos, eu ainda não a entendo. Não entendo como ela foi capaz de fazer as coisas que fez. Queria poder dissecá-la, saber o que se passa em sua mente, o que há de tão errado em mim na visão dela que justifique tanta aversão. Por que ela nunca tem nada de bom para me oferecer? Eu já estive tão aberta a qualquer demonstração e troca de carinho, e fiquei ali, alienada.
   No noivado do meu irmão ela veio para a festa. Meu pai não veio, porque para ele é insuportável lidar com a presença dela, quando eu e meus irmãos fomos as reais vítimas de sua fúria e instabilidade. 
   Minha mãe é uma pessoa impetuosa, que sempre bate de frente com todos e por isso coleciona desafetos (no que, devo admitir, não sou diferente). Minha tia está no topo da lista por algum motivo há muito esquecido; porém a recíproca é verdadeira, e minha tia a detesta de volta. 
   Minha tia, que apesar de muito diferente, e de não ter meu sangue, esteve presente na minha vida e muitas vezes me incentivou quando minha mãe não incentivava, mas que também não nutre grandes sentimentos por mim.... Mesmo assim, durante a festa ela passou por minha mãe de nariz empinado, se aproximou de mim e me abraçou de lado, relembrando em voz alta, de forma deliberada, de situações nas quais esteve presente em minha vida, uma provocação aberta, uma tentativa de causar ciúmes em minha mãe; como dizendo: "a sua filha gosta mais de mim do que de você", ou "eu fui mais mãe para a sua filha do que você". Mesmo sabendo que aquilo era puro teatro e muito longe da realidade, eu peguei aquela arma, minha única arma, e retribui o abraço, falando com carinho de coisas que nem tinham significados reais. E mesmo em meio ao desconforto, me senti triunfante ao ver a expressão da minha mãe, que certamente sofria unicamente pelo ego, pelo golpe de sua única filha ter intimidade com sua rival. Eu me senti bem. Mesquinha, infantil e mimada, mas bem.
   Então, não, esse papo de que mãe é mãe, na prática não significa nada.
   

  Eu falo muito sobre mãe, porque como diz o Chaves, "cada um pensa naquilo que lhe faz falta". Quem não gostar que não leia.  

quinta-feira, 7 de abril de 2016

falando com as paredes

   A noite passada eu sonhei que alguém me amava.

   Sono pra mim é uma coisa complicada. Sempre foi. Sempre vi as pessoas virando e começando a roncar em 5 minutos, enquanto eu rolo na cama por horas, perdendo a paciência e a sanidade. Antigamente me diziam que eu não conseguia dormir porque não fazia nada, e assim sendo, não estava cansada. Eu acatei isso por muitos anos... mas hoje vejo que não, pois atualmente tenho um emprego que me cansa física e mentalmente. Quando chega umas sete da noite eu já estou morrendo de cansaço, como se eu fosse partir ao meio. Mas mesmo que eu deite cedo, só consigo dormir após horas, o cérebro ligado no 220.
   Tenho tentado não deixar o celular com o wifi ligado, pois apesar dos meus "amigos" me ignorarem por semanas, se alguém me manda mensagem 2 horas da manhã, justamente quando meu cérebro começa a desacelerar, eu fico elétrica novamente e corro para responder. Mesmo com o wifi desligado tenho dificuldade. Mesmo com calmantes tenho dificuldade.
   A pior parte é que eu sempre recorri ao sono como fuga da vida. Eu gosto de ficar semi morta por horas, quanto mais melhor: o sono como negação de vida.
   Mas nem isso posso ter. Acordo diversas vezes, qualquer barulho me despertar, e nos últimos dois anos outro mal me aflige com frequência - a paralisia do sono. É uma das sensações mais angustiantes. E quando não fico paralisada, sentindo alguém sentado em cima de mim, respirando em cima de mim, sou acometida por terríveis pesadelos que me fazem acordar gritando e correndo, o coração tão acelerado que me faz tremer dos pés a cabeça.
       Às vezes tenho um pesadelo dentro de um pesadelo. Sabe? Quando um pesadelo é pior do que um filme de terror, e você acorda, aliviado, mas de repente o pesadelo continua, como se ele tivesse sido trazido para o mundo real com o seu despertar. Algumas noites eu fico nesse loop, acordando dentro de um pesadelo dentro de um pesadelo dentro de um pesadelo, até pensar que aquilo é real. Que eu estou no inferno.
   Sonho com estupro, incesto, insetos gigantes me atacando... E mesmo assim, prefiro enfrentar qualquer um desses pesadelos, a sonhar que alguém me ama. Quando sonho que alguém me ama, acordo e começo a chorar desconsoladamente, e essa sensação de ser amada vai se esvaindo aos pouquinhos. A dor da realidade me consome em semanas de pura dor emocional. Como se eu tivesse sido roubada de algo primordial.

   Não entendeu o que eu quis dizer? É como a música do Smiths. A noite passada eu sonhei que alguém me amava. "Sem esperança e sem dano, só mais um alarme falso". Mas há dano, sim. Por isso essa é a música mais fodidamente angustiante que existe no mundo.

   Geralmente é um homem. Geralmente não tem rosto. Ele me abraça, me beija, eu consigo sentir, consigo praticamente tocar o amor, que é mútuo. A noite passada era um homem em uma cadeira de rodas. Ele me olhava como se eu fosse a melhor pessoa do mundo, e minha insegurança ficava no caminho, mas eu o amava tanto também... Ainda amo, porque o efeito daquele sentimento não passou. É como se eu tivesse vivido aquele amor e por algum motivo fui separada daquela pessoa, que está em algum canto por aí, sofrendo também. No sonho estávamos fugindo, nos escondendo sempre. Havia sangue, havia confusão. Mas havia o maior dos carinhos, uma espécie de reciprocidade que ainda não vivenciei fora de sonhos.


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   Eu não quero mais viver. 

   Há algum tempo eu não quero mais viver. Nos últimos meses me senti melhor, mas essa verdade sempre vai voltar para socar a minha cara: eu não presto. Eu não sirvo pra nada. Eu sou um peso morto no mundo. Eu poderia sumir agora mesmo e não faria diferença alguma para ninguém.




quinta-feira, 31 de março de 2016

desistente

   Eu queria, como quase todo mundo quer, poder passar uma borracha na minha vida e começar do zero. Voltar para o útero da minha mãe. Mas isso seria apenas uma questão de atrasar o inevitável, porque a minha vida é uma zona, e eu sou culpada, sim, mas também tem a influência de tantas pessoas, que as coisas só seria diferentes se elas não existissem.
   O que tem de errado comigo? Eu sei que já perguntei isso antes, e que não existe ser humano capaz de me dar uma resposta satisfatória. Mas hoje a questão é médica. O que há de errado comigo... na minha cabeça? Por que as coisas não funcionam como deveriam? Onde posso exigir reparação do que está errado? 
   Eu pego impulso e sou arremessada longe, mas ainda distante do fim das coisas. E quando o efeito do impulso passa, eu sinto tudo desacelerando. Eu desacelero, desacelero, e não estou mais correndo, começo a andar, e os passos vão ficando mais arrastados, até que eu tropeço. Engatinho, vendo meu destino ao longe, mas tão longe, que é um mero borrão. Sinto minhas forças se esvaindo até que finalmente me deixo cair de cara no chão e ali permaneço. Todas as coisas perdem o brilho muito rápido. Tudo que eu almejo não é o suficiente para manter meu interesse em continuar.
   Por que eu sou uma pessoa que nunca termina o que começa? Alguns diriam que sou preguiçosa. Não, eles não diriam. Eles dizem. Mas eu tento. Tento tanto, me obrigo, me esforço, me pressiono, e essa pressão esgota minha última gota de vontade.
   Eu queria ser diferente. EU QUERO SER DIFERENTE. Mas eu não consigo.
   
TOP DEZ COISAS QUE EU COMECEI E NÃO TERMINEI
(por ordem de relevância)

1 - FACULDADE DE FOTOGRAFIA (2012)
2 - FACULDADE DE ARTES VISUAIS (2013)
3 - MEU LIVRO (2009)
4 - CURSO DE INGLÊS (2001. 2003. 2007)
5 - CURSO DE ESPANHOL (2007)
6 - CURSO DE HTML (2005)
7 - CURSO DE VIOLÃO (2007)
8 - NATAÇÃO (2000)
9 - BOXE (2014)
10 - AULAS DE DANÇA (2000)

E um dia, quando eu me matar, qual vai ser a surpresa? Eu sempre desisto de tudo.


domingo, 20 de março de 2016

amor


"PRA SEMPRE", 2013
Remexendo minha lata de lembranças, me deparei com uma carta da Giuliane, de 2008, a única que ainda existe — em um rompante que hoje me causa arrependimento, rasguei todas suas cartas, juntei as bijuterias com significado unilateral e joguei tudo por cima do muro do parque ao lado da minha casa. O arrependimento, na verdade, foi imediato, mas o ódio era tão grande que não fiz o que meu coração pediu: ir até o outro lado do muro, recolher todos os pedaços e guardá-los para sempre.
 Se bem que, de acordo com a própria, eu recebia menos cartas do que ela enviava, então é possível que existam algumas perdidas em agências dos Correios. Uma coisa bem cinematográfica: imagina eu receber algumas dessas cartas daqui 50 ou 60 anos! RÁ!
Foi com espanto que encontrei a carta sobrevivente, apesar de eu tê-la colocado na lata conscientemente alguns meses atrás. A peguei, fiquei acariciando o envelope, temerosa do que encontraria dentro. Como se pudesse, magicamente, ter surgido novas palavras que eu já não conhecesse de cor. Tirei as folhas, as cheirei, mas o perfume que antes conseguia sentir já evaporou por completo. Comecei a ler com cautela, mas fui remetida a uma das melhores épocas do nosso relacionamento, quando ela me chamava de "meu amor" e me dava explicações e carinho. Também tive a certeza absoluta de que não me enganei, que realmente falamos em amor além da amizade. Essa foi provavelmente a carta mais explícita que recebi dela. Ela referenciava uma de nossas conversas, me dizia que havia pensado em me propôr namoro, mas ficou com medo de receber um "não" como resposta"... e eu pude me ver novamente na lan house ao lado da escola, a webcam ligada, timidez, ela dizendo o quanto me amava e que eu era linda. Foi naquele mesmo lugar que eu recebi a mensagem responsável por partir meu coração de forma irreparável: quando ela  abruptamente colocou um ponto final no que tínhamos, no que ainda não havia nem começado de verdade.
Lendo a carta senti meu peito apertar, um nó na garganta e a tristeza por todas as coisas que não aconteceram. E pude rastrear tantas coisas para aquela época da minha vida. Nunca mais fui capaz de me envolver daquela forma com ninguém. Nunca mais senti essa conexão. Nunca mais fui capaz de me entregar para pessoas reais, e caí nas garras de pessoas aproveitadoras, de uma forma ou de outra.
Agora mesmo, enquanto digito, sinto meu rosto pegando fogo e as lágrimas surgem, mas ficam retidas.
Eu queria amar novamente daquela forma. Com aquela pureza, inocência, entrega total e correspondência. Independente de como as coisas aconteceram, eu nunca me senti tão bem, nem antes e nem depois. A vida teve sentido e expectativa por um período de tempo. A minha poesia já não falava de tristeza e morte, existia com o propósito único de exaltar todas as coisas maravilhosas que ela me fazia sentir, todas as coisas maravilhosas que ela era.
Mas quando olho para aquela época não consigo deixar de me sentir como se estivesse assistindo através dos olhos de outra pessoa. E obviamente, isso se deve ao fato de que eu SOU outra pessoa, assim como ela não é a mesma. Porra, ela nem ao menos se lembra de um terço dessas coisas! Ou prefere não lembrar?
Mas há ali os mesmos traços que ela até hoje carrega. Talvez eu tenha mudado mais do que ela no fim das contas. Perdi todo resquício de doçura, de gentileza, de esperança, e me tornei em um ser humano caótico. Eu sempre fui uma confusão, mas antes tinha bondade em mim. Ela trouxe essa bondade à tona, mas também a matou de vez.
Nessa carta ela dizia que sabia que estava me ferindo e se propunha a parar de fazer aquilo. Naquela época ela estava namorando um garoto para manter as aparências, mas deixa isso totalmente escancarado para mim. Inclusive diz com todas as letras que me amava desde antes, quando estava estava noiva de outro, e que o cara soube disso mesmo antes de ela saber. Ela dizia que era só eu pedir que ela terminaria com o novo namorado. E eu lembrei que na época isso era tudo que eu mais queria na vida, mas não me sentia no direito de dizer a ela o que fazer, sobretudo porque eu não podia lhe oferecer nada do que precisava, a um estado de distância.
O que teria acontecido se eu tivesse pedido que terminasse? Se eu tivesse dado um jeito de ir lá? Isso teria mudado alguma coisa? Nosso amor teria tido uma vida um pouco mais longa?
Apesar da dor, foi bom ter essa certeza... de que ela me amou, e que eu a amei. Não é o suficiente, mas é alguma coisa. Porém também cheguei a conclusão de que nunca vou ser capaz de amar novamente. Não daquela forma — que é a única que consigo conceber como verdadeira. Jamais haverá uma pessoa como a Giuliane, a minha Giuliane, que morreu e foi enterrada pelos princípios da sociedade.
Ela foi capaz de esquecer a Cíntia, que também foi cimentada há muito tempo. Ela seguiu em frente, e agora tem outra pessoa com quem planejar o futuro. Alguém que possivelmente ama ainda mais do que amou a mim. 
Se você conseguiu ler até o final: não lhe desejo mal.


Eu só queria ser capaz de seguir em frente também.




sábado, 19 de março de 2016

mãe... pai... etc

    Eu, como tantos outros nesse mundão de filho da puta, fui criada para achar que tem algo errado comigo. Não existe nada, repito, nada com maior capacidade de foder o mundo do que pai e mãe. Os meus me foderam, e eu fodi tantas coisas em consequência, que o mundo é um pouco pior do que seria se eu não existisse. E por isso, com o coração sangrando, declaro aqui e não voltarei atrás: não vou ter filhos.
    Eu tento, tento, tento, tanto ser diferente dos meus pais, mas o tempo todo me pego sendo uma cópia deles. Ainda não tão dura, mas dizem que a prática leva a perfeição. E eu não quero ser meus pais. 
   Algumas pessoas simplesmente não nasceram para ter filhos, e infelizmente sou uma dessas pessoas, porque estou presa para sempre no ciclo de confusão e ódio da minha família. E nisso não me refiro exclusivamente aos meus pais: minha família no geral, até onde consegui rastrear, é completamente surtada e sádica. Meus avós e meus tios também fazem parte do pacote da fodeção mental que foi a minha existência até agora. Desde o simples descaso, ser sempre a preterida, até ser trancada no porão, aterrorizada psicologicamente, levar surras constantes, ser impedida de usar o banheiro (trancado a chave) e uma longa lista de etc. A desculpa deles: "meus pais foram piores comigo".

  Tanto meu pai quanto minha mãe têm doutorado na arte da manipulação. Eles chantageiam, torturam, mentem, e ainda nos fazem sentir como os inadequados. Isso sem deixar grandes marcas físicas, sem evidências de tais abusos, e sem possibilidades de reclamar, porque existem pais piores. Existem os que abandonam os filhos numa lixeira e nunca mais olham para trás. Diante disso meu caso fica muito fraco, o júri inocenta meus pais.
"Eu sou inteligente, você é burra
Eu sou grande, você é pequena
Eu estou certo, você está errada"
   O que é um pai que não vai à sua formatura do ensino fundamental, que não aparece no lançamento do seu livro, que te pressiona para pegar empréstimos bancários e suja seu nome, que grita que você é uma idiota, que não agradece por você trabalhar quase de graça para ele (...) perto de um pai que te joga no lixo ou um que te passa uma IST durante o ato sexual forçado? De fato, meu pai não me bate há exatamente uma década. De fato, em outros momentos da vida ele encheu meu rabo de dinheiro. Mas na minha casa não há abraços, não há palavras de incentivo, não há preocupação além daquilo que não o beneficia.
Eu tinha 10 anos. O Junior 9, e o Felipe 7.
   



Minha mãe era do tipo que mandava cartinhas em momentos de ódio, mesmo que você estivesse morando com ela. E ela esquece tudo que não lhe interessa lembrar, como o real motivo de ter me expulsado de casa quando eu tinha nove anos (meses antes da carta ao lado). Ela não acredita quando digo que seu irmão abusou sexualmente de mim por anos, começando quando eu tinha seis. E, como qualquer pessoa que me conhece sabe, ela costumava usar a mim e aos meus irmãos como sacos de pancada para aliviar seu estresse. Mas ao menos ela não me jogou na privada de um banheiro. Ao menos ela não me prostituiu para comprar crack. Referência para o futuro: na carta que segue ela era apenas dois anos mais velha do que eu sou agora. Gosto de pensar que eu não escreveria uma carta dessas para meu filho de 10 anos.
   Meus pais são passáveis.  Como a minha, existem milhares de outras histórias
"Eu me arrependo de ter tido filhos, bjs"
   Outras pessoas gostariam de ao menos ter pais. Não importa se eles fossem doidos varridos, se saíssem na mão no meio de uma avenida e os ônibus, carros e passantes parassem para ver a cena enquanto você e seus irmãos gritavam e choravam desesperadamente. Eles só queriam ter a quem chamar de "mãe", de "pai". E eu sou ingrata. 
   É muito difícil entender que eu sinta inveja de primos, de amigos? Eu sempre vivi à sombra de pessoas felizes. Quando eles me contam que seus pais o apoiaram, em qualquer aspecto que seja, prendo a respiração por uns segundos, tentando conter a tristeza que se manifesta mais na boca do estômago do que no peito. Por que eles podem ter isso, e eu não? Cadê minha foto com meus pais atrás de mim na formatura  que não tive do ensino médio? Por que minha mãe não pode ser minha melhor amiga? Porque eu não tenho com quem contar? Por que meu pai não vai me buscar à noite no ponto de ônibus? Por que eles não se importam? Por quê?!
   Se seus pais morrem, se você é abandonado, você é chamado de "órfão". Mas qual o título que você recebe quando tem pais, eles estão ali, mas não no sentido emocional?
   E agora vem a pior parte: muitos dos meus amigos vivem repetindo que a minha família inteira é um lixo, que só tem filho da puta. E eu concordo (eles não dizem, mas eu sei: também sou uma filha da puta). Eles dizem que eu merecia melhor. Mas — muitos deles — agem como se eu não merecesse, ao me tratar apenas menos pior do que a minha família me trata. Eles também me manipulam, também me chantageiam, também me ignoram. Também me fazem sentir que tem algo errado comigo.
   O que há de errado comigo?

...

sábado, 12 de março de 2016

Com quem eu falo? Pra quem eu escrevo?
Pra mim? Pra ninguém. 

Às vezes penso que a solução para essa necessidade de pôr os pensamentos em palavras, de organizar essa bagunça, seja comprar um diário de papel. Antes me bastava. Mas aí penso no cansaço, na mão doendo, na morte da árvore. Minha vida é uma repetição sem fim. Eu fico irritada. Eu me sinto desvalorizada. Eu amo, eu odeio, eu me fodo. E dói.

quinta-feira, 10 de março de 2016

registro

Quando a pessoa te conhece, te conhece.


Ele: 
quase perguntei se você está bem 
Eu: 
e por que não perguntou? haha 
Ele: 
você nunca está bem 
Eu: 
eu nunca ESTAVA bem. 
Ele: 
(...) e se dissesse que está agora, não adiantaria muito 
Eu: 
por que não? 
Ele: 
porque eu não acreditaria 
Eu: 
e se houvessem circunstâncias? 
Ele:
sempre há 
deixe-me ver o seu perfil no facebook 
"os seres humanos me assombram" 
é você mesma xD

cerol

Para muitas pessoas
não basta empinar pipa
Elas precisam cortar
a linha dos outros.

Por isso o mundo é o que é.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Querido Diário: IDEAIS, Cíntia de 2011

11.07.11

"A gente brigava por um mundo melhor. Um mundo em que as pessoas se amassem, em que as pessoas pudessem comer, beber, brincar, rir, fazer e curtir arte"
Lúcia Murat


   Eu tento e tento, mas não consigo me adaptar aos costumes da sociedade. Será que algum dia as coisas estiveram no lugar? Será que algum dia estarão? Qual a sentido de lutar para haver paz, prosperidade? Milhões e milhões de pessoas morreram por ideais, às vezes algumas coisas até avançam, mas outras logo retrocedem.
   O ser humano não sabe viver em paz? Isso os perturbaria de tal maneira que apenas buscam guerras?
   Para o entendimento todo mundo tem que ceder em alguma coisa, uns mais, outros menos, mas todos precisam [ceder]. Despir-se de preconceitos, amar ao próximo como a um irmão. Isso é muito difícil, mas não impossível! Respeitar a Natureza, todos os seres, deveria ser uma espécie de senso comum. Por que os humanos se sentem tão superiores? A Bíblia lhes dá tal poder?
   Eu pensava que a religião deveria ser algo para nos deixar em paz, não soberbos e mesquinhos. As pessoas deveriam duvidar de tais ensinamentos.
   Eu não posso evitar a tristeza, porque quando olho para a sociedade vejo como as pessoas encaram a violência em geral com naturalidade — muitas vezes culpando o agredido enquanto os agressores saem com sorriso de lobo. (...)
   [Mas] as pessoas não conseguem tolerar as diferenças (...) Acham que não há mais racismo e escravidão, mas nós somos [todos] escravos. E carrascos.
   Olham com maus olhos tudo que não compreendem, e ao contrário de tentar entender, hibernam na ignorância e ditam suas sentenças.
   Enquanto eu, que em algum momento da vida pensei que sabia de tudo e hoje vejo que não sei nada, sinto o quanto é difícil julgar esta ou aquela pessoa, pois só sabe o que pensa quem o pensa.
   Mas eu também penso, e devo saber o que quero para mim e seguir o meu rumo sem ferir ninguém.
   O que sei é que empatizo com toda e qualquer dor, a princípio, mas também não perdoo quem faz o mal, e não darei a outra face.





12.02.16
Eu já fui uma pessoa melhor.
 Mas continuo contraditória.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

delírios literários


   A Saraiva solicita uma carta de apresentação e eu já começo a imaginar todo um futuro. São anos e anos e anos sonhando em trabalhar com livros, ajudar a vendê-los, sentir seu cheiro, seu toque, cuidar deles, ver a empolgação em outras pessoas quando conseguem grana pra comprar aquele livro que queriam há tempos. E também, preciso de dinheiro (para comprar meus livros desejados).
  
   Mas vem o pânico.
   Na minha cabeça todo um roteiro deslancha: sou chamada para entrevista. O recrutador pergunta, pra conferir se minha paixão é real: "qual seu livro preferido?"
   Antecipei, dentro de minha antecipação, aquela pergunta, é claro. 
   Se eu respondesse prontamente ficaria óbvio que aquele script foi ensaiado. Então fingiria surpresa. Alguns momentos de pausa, cara pensativa.

   O problema, porém, é real. Como leitora há, vamos arredondar, 20 anos, tenho tantos queridinhos literários... *suspiro*

    Respondo:
   "Pergunta difícil... *sorrisinho amarelo* Acho que... Matilda".
   E consigo ver a cara de censura do recrutador: "Matilda é um livro infantil! Cresça, mulher!"
  
    Passo a borracha, sentindo culpa.
   
   Tento de novo:
   "A Menina que Roubava Livros?!" (assim mesmo, como se esperando aprovação antes de dar certeza).
   A Menina que Roubava Livros - posso sentir seu desdém - Best seller recomendado pela revista Veja. Isso mesmo.

   Dois possíveis resultados: 

   Sendo a Saraiva uma empresa inovadora, porém comercial, talvez fosse um bom indicativo, ainda que totalmente errôneo, de que eu estaria sempre ligada nos livros do momento, sendo, assim, uma ótima vendedora.

   Mas por outro lado, o preconceito em torno de livros comerciais poderia ser um ponto negativo para a primeira impressão: "ela só lê livros comerciais! Ela provavelmente é fã de 50 Tons de Cinza". Mas meu caro, até Stephen King falou bem desse livro. AHAM. Eu não levaria uma pessoa que se baseia em TOPs da Veja a sério também, sinceramente. 
   Foi com espanto, para começo de conversa, que eu caí de joelhos perante  A Menina que Roubava Livros: meus professores me indicaram, porque "cof a personagem principal também rouba livros cof" - ops! se algum recrutador estiver lendo isso, eu juro que já estou curada... mais ou menos -, amigos indicaram: "ela ama livros como você!", e eu circulei o exemplar na biblioteca municipal por muito tempo, até que um dia o peguei nas mãos  - suadas e trêmulas - e a sinopse me conquistou, tão inesperada e forte quanto um ataque cardíaco: "Quando a Morte conta uma história, você deve parar para ler". Muito bem. A Veja estava certa e eu estava errada, esse livro é uma obra-prima. 
  
   Mas apago novamente. A coisa tem que ser certeira.
   "Meu livro preferido é High Fidelity".
   Ele não conhece o livro. Me olha como se eu o tivesse ofendido, tentando demonstrar superioridade intelectual citando um livro em inglês.

    Eu chego na entrevista. Tudo corre relativamente bem. Enfeito as palavras um pouco, demonstrando mais doçura do que possuo... e ele pergunta:
    "Para finalizar, qual seu livro preferido?"
    Eu faço silêncio por um momento... Alcanço o bolso traseiro da calça e tiro um papel, o qual lhe entrego. Ele o desdobra e o que encontra é



      TOP 10
          POR: CÍNTIA LIRA


10) Acordar ou Morrer, Stella Carr
09) Alta Fidelidade, Nick Hornby
08) Mais Pesado que o Céu, Charles R. Cross 
07) Eu, Christiane F, treze anos, drogada, prostituída..., Kai Hermann e Horst Rieck
06) Pirapato - O Menino Sem Alma, Chico Anes 
05) O Caso dos Dez Negrinhos, Agatha Christie
04) Eu e Outras Poesias - Augusto dos Anjos
03) Os Sonhos Morrem Primeiro, Harold Robbins
02) A Menina que Roubava Livros, Markus Zusak
01) Matilda - Roald Dahl


   Ele pode ter fingido que leu. Ele pode ter achado a lista muito eclética. Ou intelectualmente duvidosa. A única certeza: ele compreende que sou louca. Não consigo o emprego.
   Eu chego em casa, deito na cama e fico me torturando. Não pela incapacidade de conseguir um emprego, as contas se acumulando, o tempo passando, a incerteza do futuro, mas pela ordem e livros escolhidos. Faltou O Estudante. Faltou Sonho de uma Noite de Verão. Faltou A Filosofia na Alcova, Um Copo de Cólera, Casa de Meninas, A Lira dos Vinte Anos, Os Doze Trabalhos de Hércules, PORRA, faltou A METAMORFOSE! E eu deveria ter roubado no meu próprio jogo e colocado Estação das Brumas, que não é um livro e sim uma história em quadrinhos.
    
                    F   U   C   K