domingo, 24 de maio de 2015

Hoje eu sou Alice

   OK. Quer ler algo estúpido? Se eu pudesse ter qualquer super-poder por apenas um dia, escolheria uma forma de telepatia ampliada que me permitisse obter respostas para quaisquer perguntas que tivesse em mente. E usaria este poder, possivelmente, em uma só pessoa. A pessoa que tirou, por anos a fio, toda minha auto-estima, dignidade e inocência. É estranho pensar que ele tenha feito tudo isso, quando o vi, se muito, 5 vezes nos últimos 10 anos. É claro que estou falando do meu molestador. 
   À esta altura do campeonato seria apenas uma questão de entendimento; obviamente nada poderia justificar, mas aqui estou, 25 anos, ainda buscando entender. Entender o que se passa na mente dele, como ele se lembra das coisas, como ele pode agir como se nada tivesse acontecido... como ele pode ter me tornado a louca?
   Por uma das voltas da vida, a ex-mulher dele voltou ao seio da família, trazendo a filha deles, que agora tem aproximadamente 13 anos. Da última vez que ela reapareceu em nossas vidas foi em 2007 ou 2008, e naquela época temi muito que ele fosse capaz de fazer algo à própria filha. Na época, ainda frequentadora do Orkut, busquei a opinião de outras mulheres que sofreram abuso sexual, e muitas me apontaram a necessidade de fazer uma denúncia. Agora, eis o problema: tenho 3 primas vivendo no mesmo quintal que ele. Primas que o adoram e não acreditam em mim, pois, é claro, não passaram pelo mesmo que eu. Por mais ridiculamente egoísta que isso soe, ao longo dos anos não pude evitar repetidamente me perguntar "por que eu? por que não uma delas ao invés de mim? porque ele não fez com elas também?"
   Vejo fotos da filha dele, não consigo deixar de ver a mim mesma nas fotos. Não consigo deixar de pensar em como ele se sentiria se alguém fizesse o mesmo à filha dele. Ou sentir repulsa ao imaginar ele fazendo...

               Não há defesa para essa linha de pensamento, eu sei. Mas é preciso entender minha confusão...
               
               
                                                        ...

               Minha própria monstruosidade não me escapa.