sexta-feira, 22 de outubro de 2010

descuido

Inclinada e pensativa,
sobre a proa eu fiquei;
Perdi minha palavra 
entre as águas do oceano!...
Quando dei por falta, 
chorando, aos prantos,
Pulei no azul profundo  
— o desespero foi tanto...

Perdi todas as forças 
nadando contra a corrente
E para meu desgosto, 
a palavra, no fluxo das águas
Morrera e fora comida por peixes.

Olhei para o Céu praguejando heresias
E minhas lágrimas quentes
se juntaram às águas frias.

E mesmo ali, banhada e gélida
Pude sentir que estava seca,
Insensível para a poesia...

O navio há muito partira,
Minha alma também se foi;

Só eu fiquei ali, inerte e vazia.

Meu espírito, inquieto e triste,
não pôde se elevar:
Perder a palavra...
maior descuido não há!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Cassandra

Como última jura falar-te-ei do meu amor
Que é tanto e por ser tanto até parece blasfêmia.
Como herança para o mundo, deixo a lembrança
De uma moça, que um dia, nua na beira dum lago, avistei
Com o coração em tamborim e lágrimas sinceras nos olhos.
Como despedida deste inferno de amar sem ser correspondido
Eu demarco nesta pedra o nome de doçura:
Cassandra. Eu talho seu nome no infinito
E me desfaço de amarga vida
Nunca nunca sendo ouvido.
Cassandra. Filha da Natureza,
Deusa da Beleza!
Com meu sangue te glorifico!

Dois de setembro de 2010.